quinta-feira, 31 de maio de 2012

A descrição


Descrição é o “retrato verbal” de pessoas, objetos, cenas ou ambientes. O texto trabalha

 com imagens, permitindo ao interlocutor “ver” o que está sendo descrito.

   Portanto uma boa descrição é aquela que permite, ao leitor ou ao ouvinte, identificar

aquilo que está sendo descrito.Mas é fundamental, também, que ela consiga expressar

aquilo que o ser descrito apresenta de individual, de característico.

 Leia o poema abaixo e observe como Pablo Neruda descreve a cebola com perfeição.


ODE ÀS CEBOLAS (Pablo Neruda)


Cebola
 Luminosa redoma
 pétala a pétala
cresceu a tua formosura
 escamas de cristal te acrescentaram
 e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
 e como em Afrodite o mar remoto
 duplicou a magnólia
 levantando os seus seios,
 a terra
 assim te fez
 cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
 redonda rosa de água,
 sobre
a mesa
das gentes pobres.

Generosa
 desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
 e os estilhaços de cristal
 no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.


Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
 e parece que o céu contribui
 dando-te fina forma de granizo
 a celebrar a tua claridade picada
 sobre os hemisférios de um tomate.
mas ao alcance
das mãos do povo
regada com azeite
polvilhada
com um pouco de sal,
 matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.

Estrela dos pobres,
fada madrinha
 envolvida em delicado
papel, sais do chão
eterna, intacta, pura
como semente de um astro
 e ao cortar-te
 a faca na cozinha
sobe a única
 lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.



Eu tudo o que existe celebrei, cebola
 Mas para mim és
mais formosa que uma ave
 de penas radiosas
 és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina
 baile imóvel
de nívea anémona


e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.
Luminosa redoma
pétala a pétala
cresceu a tua formosura
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra
assim te fez
cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das gentes pobres.

Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
e os estilhaços de cristal
no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.

Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate.
mas ao alcance
das mãos do povo
regada com azeite
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.
estrela dos pobres,
fada madrinha
envolvida em delicado
papel, sais do chão
eterna, intacta, pura
como semente de um astro
e ao cortar-te
a faca na cozinha
sobe a única
lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.

Eu tudo o que existe celebrei, cebola
Mas para mim és
mais formosa que uma ave
de penas radiosas
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina
baile imóvel
de nívea anémona

e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.

 

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