sexta-feira, 24 de junho de 2011

A nova cartilha do MEC

Não tive oportunidade de ler integralmente a nova cartilha do MEC, porém as partes que li mostram a variação linguística existente no país. E o que é isso? Como a Linguística é uma área nova do estudo da língua, muitas pessoas ainda não entendem o que significa. Leiam o texto abaixo para entender melhor.

Variação linguística

Variações linguísticas
O modo de falar do brasileiro
Alfredina Nery*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.
Variação socioeconômica
1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;
2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;
3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.
Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.

A linguagem é usada de modo informal em situações familiares, conversas entre amigos. Nesses, casos, diz-se que o falante está fazendo uso de uma linguagem informal.
Nas situações formais de uso da linguagem (por exemplo, uma palestra em um congresso científico), o falante procura fazer uso de uma linguagem também mais formal – norma-padrão, linguagem formal ou norma.

Variações regionais: os sotaques
Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:

Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.

Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação linguística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.Leia.
Antigamente
"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.

Língua e status
Nem todas as variações linguísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para perceber que há preconceito em relação a elas.

Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:

O Poeta da Roça
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argun menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)

Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.

Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira".

Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades linguísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações linguísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito linguístico.

Presidente ou Presidenta?

Alguns brasileiros não aceitam o termo PRESIDENTA. Por quê? Acredito que seja pela falta de informação ou pelo machismo que está disfarçado, mas é arraigado.Inclusive, li um artigo de muito mau gosto em que o articulista fazia comentários machistas sobre outros vocábulos que são substantivos sobrecomuns com o intuito de dizer que estaria incorreta a forma presidenta. Não adianta, a palavra está no dicionário, portanto existe. E como a presidenta Dilma Rousseff gosta de que se refiram a ela assim, deve ser respeitada.
O professor PASQUALE CIPRO NETO tira a dúvida.Que têm em comum palavras como “pedinte”, “agente”, “fluente”, “gerente”, “caminhante”, “dirigente” etc.? Não é difícil, é? O ponto em comum é a terminação “-nte”, de origem latina. Essa terminação ocorre no particípio presente de verbos portugueses, italianos, espanhóis…
Termos como “presidente”, “dirigente”, “gerente”, entre inúmeros outros, são iguaizinhos nas três línguas, que, é sempre bom lembrar, nasceram do mesmo ventre. E que noção indica a terminação “-nte”? A de “agente”: gerente é quem gere, presidente é quem preside, dirigente é quem dirige e assim por diante.
Normalmente essas palavras têm forma fixa, isto é, são iguais para o masculino e para o feminino; o que muda é o artigo (o/a gerente, o/a dirigente, o/a pagante, o/a pedinte). Em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as formas exclusivamente femininas, em que o “e” final dá lugar a um “a”. Um desses casos é o de “parenta”, forma exclusivamente feminina e não obrigatória (pode-se dizer “minha parente” ou “minha parenta”, por exemplo). Outro desses casos é justamente o de “presidenta”: pode-se dizer “a presidente” ou “a presidenta”.
A esta altura alguém talvez já esteja dizendo que, por ser a primeira presidente/a do Brasil, Dilma Rousseff tem o direito de escolher. Sem dúvida nenhuma, ela tem esse e outros direitos. Se ela disser que quer ser chamada de “presidenta”, que seja feita a sua vontade -por que não?
 
 CAPÍTULO 72 DAS REGRAS DE SÃO BENTO trata "do zelo bom que os monges devem ter". Inicia-o dizendo: "Assim como há um zelo mau, que é um zelo de amargura, que separa de Deus e conduz ao inferno, existe um zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna".
Sabemos que é uma regra religiosa, mas que serve também para o nosso convívio. O mundo sempre foi perturbado pelo zelo da amargura. Desde os tempos mais remotos, o homem se mostra egoísta, invejoso e amargurado. Na Bíblia encontramos várias passagens que comprovam isso, entre elas, temos: Judas Iscariotes que por ter se apegado  ao dinheiro, em sua fraqueza entrega Jesus por 30 moedas de prata (Mateus 26, 15; 27, 3) e depois cheio de arrependimento e amargura se suicida.  Temos também o irmão mais velho do filho pródigo indignando-se com o pai porque este acolhia alegremente o mais moço que voltava. “São Bento fala com especial cuidado do espírito de murmuração. Esse dizer ao ouvido do outro, quase sempre com ares de quem está zeloso pelo bem, é um veneno corrosivo e dissolvente. Gera uma atmosfera de desconfiança e suspeição que destrói a vida em comum, que só pode existir numa base de confiança recíproca.”, diz D. Lourenço de Almeida Prado num artigo sobre o zelo bom em 1980. Podemos citar  fatos da História da humanidade em que a suspeição levou à discórdia, ao ódio, à morte. Como , exemplo, temos o suicídio de Getúlio Vargas, o assassinato de Jonh Kennedy, afora os políticos sempre tramando uns contra os outros, ou que se unem na surdina para elaborar leis que beneficiam o aumento de impostos ou dos próprios salários, sacrificando o povo. Na escola, alunos que praticam o bullying, que humilham os colegas, que nunca se dispõem a ajudar o outro, que até preparam ciladas para prejudicar o próximo  são exemplos da discórdia no nosso meio.  O zelo da amargura está liderando este novo milênio. O homem não segue os Mandamentos de Deus, a maioria nem sabe que existem esses Mandamentos. Quem se preocupa com o próximo? Quem é o próximo? Por que me preocupar com o outro, se ele não se preocupa comigo? O mundo, hoje, sou eu. E essa amargura suscita o individualismo, o zelo do egoísmo. O homem tornou-se o seu próprio inimigo. O zelo é com ele mesmo.  Com o outro temos que ser prevenidos, não podemos confiar em ninguém. E vamos ficando cada vez mais longe do amor e respeito ao outro. Esse zelo  está nos isolando até mesmo do convívio familiar. Os pais modernos e que têm um bom poder aquisitivo passam muito tempo fora de casa e querem suprir a falta de atenção e carinho com presentes, dizendo “sim” a tudo que é pedido pelos filhos ( mesmo que sejam absurdos). Por outro lado, as crianças e adolescentes se isolam no “seu mundo”, sentem falta de alguém que pergunte “Como  foi o seu dia?” “Você está bem?”, ou ainda de uma “bronca”, porque no íntimo sabem que se são chamados a atenção é porque alguém se preocupa com eles   ̶  o zelo bom se faz presente. Alguns só conversam por meio da internet, possuem TV no quarto, comem no quarto também e só procuram os pais quando precisam de dinheiro ou de algum objeto que lhes faça falta.  Vivem revoltados com a vida, ou melhor, com o mundo.  Observa-se que a vida moderna, cheia de tecnologia em vez de libertar o homem, escraviza-o. Os bons programas, que poucas emissoras transmitem sobre a cultura, os valores, têm pouco IBOPE. No entanto, programas que apresentam “besteirol” com BBB e outros têm uma audiência enorme. Infelizmente, vemos o enaltecimento da falta de caráter, do sexo, da traição, da injustiça. Mas para estar neste mundo, devemos estar bem com Deus, livres desse amargor. Cada vez que nos sentirmos assim, devemos rezar a Deus para que nos livre desse sentimento.
Temer a Deus, respeitá-lo, amar o próximo, ter paciência com o outro, falar docemente com o irmão, amar a sua família, ter respeito a si mesmo. Isto é o ZELO BOM.