segunda-feira, 21 de abril de 2008

Maiô

Sergio Rodrigues
www.todoprosa.com.br

A palavra “maiô” parecia destinada a ter sabor nostálgico para sempre. Nome de um traje feminino de banho inteiriço tornado conservador pela explosão mundial do duas-peças, ou biquíni, o maiô nunca desistiu de tentar rentrées periódicas. Foi necessária, porém, uma mudança de praia – ou piscina – semântica para que invadisse triunfalmente o século 21. Não mais como peça feminina, mas unissex. Não mais estrela em passarelas, mas artigo de alta tecnologia no esporte de competição.
“Maiô” foi resultado da aclimatação em português, em algum momento da primeira metade do século 20, do francês maillot. A palavra dava conta entre nós dos cada vez mais ousados trajes de banho femininos. Em sua língua original, maillot era um vocábulo vetusto, mas com diferentes acepções. Começara sua carreira no século 16 como sinônimo de cueiro ou fralda, pano de enrolar recém-nascido. Só no início do 19 surgiria a acepção de malha de balé, que, na primeira década do século passado, se expandiu para abarcar trajes colantes de banho. Maillot veio, em última análise, do latim macula, ancestral de “malha” e “mancha”.
A adaptação da grafia e o lugar confortável ocupado pela palavra em português nada têm de raros. Inúmeros vocábulos franceses no campo da moda e dos cuidados pessoais tiveram o mesmo destino em diferentes épocas, e hoje mal se pensa neles como galicismos: maquiagem, sutiã, jaqueta, broche, botina, soquete, laquê, lamê, manicure…
Alguém disse biquíni? Não, nesse caso a história é outra. O duas-peças herdou seu nome do Atol de Bikini, no Pacífico, onde em 1946 os EUA deram início a testes nucleares noticiados com estardalhaço, detonando uma bomba debaixo d’água. Naquela época, uma certa novidade indecente – portanto também explosiva – estava fazendo barulho na Riviera Francesa. O biquíni começou como metáfora.